sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Desastre do Mar de Aral

Um dos maiores desastres ecológicos do século 20 ocorreu na ex União Soviética, a degradação do Mar de Aral. Esse mar, que na verdade é um lago salgado, abrange terras do Casaquistão e do Usbesquistão, duas repúblicas que até 1991 faziam parte da extinta União Soviética. Em língua turca, o Aral é comparado a uma ilha: “uma ilha de água num mar de desertos”. Em 1960, ele cobria 68.000 km², sendo o 4º maior lago do mundo. Em 2000, sua superfície já estava reduzida à metade. A separação entre o Pequeno Mar ao norte e o Grande Mar ao sul data de 1989. A evolução atual prediz o desaparecimento total do segundo por volta de 2025.

A diminuição do volume de água no Mar de Aral é considerada um dos maiores desastres ambientais da história. Dois rios principais lançavam suas águas no Aral: o Amu Daria, ao sul e o Sir Daria a nordeste. Esses dois rios, as duas principais fontes de recursos hídricos da Ásia Central, têm suas nascentes nas altas montanhas que fazem parte do sistema do Himalaia e que distam cerca de 1.000 km da foz.

Na década de 1960, as autoridades da antiga URSS puseram em prática uma política de irrigação utilizando as águas dos rios, especialmente o Amu Daria, que visava destinar 7 milhões de hectares da Ásia Central para o cultivo de algodão. Esse sistema de cultivo tornou em pouco tempo o Usbesquistão no quarto maior produtor e no segundo exportador mundial de algodão. Esse sucesso econômico provocou e continua provocando danos enormes ao meio ambiente e às populações da região (especialmente para mais de 1 milhão de pessoas da Karakalpakia, república autônoma pertencente ao Usbesquistão).

Em termos ambientais, o desastre pode ser avaliado por uma serie de dados. Na década de 1980, o fluxo de água dos rios Amu Daria e Sir Daria era de apenas 10% daquele que era registrado vinte anos antes de iniciada a utilização da técnica de irrigação. Desde a segunda metade da década de 1990 esses rios deixaram de levar água ao Aral. A interrupção do fluxo de água combinado com a forte evaporação e a pouca chuva (deve-se lembrar que o clima da região é desértico), fizeram diminuir a superfície do mar em cerca de 65%. Como conseqüência, seu volume de água decresceu em 80%e a profundidade média reduziu-se em 18 metros na parte sul e 13 metros na porção norte do mar. A salinidade do Aral passou a ser equivalente à dos oceanos em geral.

O recuo da superfície do mar foi deixando em seu leito milhares de hectares de áreas desérticas, recobertas por sais que os ventos dispersam por uma vasta região. A água residual do mar, assim como aquelas do curso inferior dos rios tiveram seu teor de sal aumentado assim como a carga de resíduos químicos e bacteriológicos fruto da utilização abusiva de adubos, pesticidas e desfolhantes químicos.

A independência das repúblicas da antiga Ásia Central Soviética em 1991 acendeu esperanças de melhora da situação. Os programas de assistência colocados em prática, especialmente por organizações internacionais, todavia surtiram pouco efeito. Contudo sua presença tem possibilitado alertar a opinião pública internacional para a situação dramática vivida pelas populações atingidas pela catástrofe, vítimas de políticas econômicas absurdas postas em prática por governos autoritários.

Esse é o exemplo clássico de um projeto que foi implantado de maneira totalmente inadequada. Não se avaliou as modificações ambientais que a implantação de um projeto de irrigação desse porte provocaria em uma região desértica. Em decorrência dessa falha de planejamento uma rica atividade pesqueira, que antes ocorria na região, foi quase que inteiramente destruída. O Mar de Aral era responsável por 1/6 da produção de pescados da antiga União Soviética e dava emprego a 40.000 pessoas. Hoje os barcos estão se deteriorando sobre um solo ressequido, onde antes era mar. Provavelmente tragédias desse tipo não mais se repetirão. Estamos aprendendo, através desses erros monumentais, a sermos mais respeitosos com a natureza.



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