Um dos maiores desastres
ecológicos do século 20 ocorreu na ex União Soviética, a degradação do Mar de
Aral. Esse mar, que na verdade é um lago salgado, abrange terras do Casaquistão
e do Usbesquistão, duas repúblicas que até 1991 faziam parte da extinta União
Soviética. Em língua turca, o Aral é comparado a uma ilha: “uma ilha de água
num mar de desertos”. Em 1960, ele cobria 68.000 km², sendo o 4º maior lago do
mundo. Em 2000, sua superfície já estava reduzida à metade. A separação entre o
Pequeno Mar ao norte e o Grande Mar ao sul data de 1989. A evolução atual
prediz o desaparecimento total do segundo por volta de 2025.
A diminuição do volume de água no
Mar de Aral é considerada um dos maiores desastres ambientais da história. Dois
rios principais lançavam suas águas no Aral: o Amu Daria, ao sul e o Sir Daria
a nordeste. Esses dois rios, as duas principais fontes de recursos hídricos da
Ásia Central, têm suas nascentes nas altas montanhas que fazem parte do sistema
do Himalaia e que distam cerca de 1.000 km da foz.
Na década de 1960, as autoridades
da antiga URSS puseram em prática uma política de irrigação utilizando as águas
dos rios, especialmente o Amu Daria, que visava destinar 7 milhões de hectares
da Ásia Central para o cultivo de algodão. Esse sistema de cultivo tornou em
pouco tempo o Usbesquistão no quarto maior produtor e no segundo exportador
mundial de algodão. Esse sucesso econômico provocou e continua provocando danos
enormes ao meio ambiente e às populações da região (especialmente para mais de
1 milhão de pessoas da Karakalpakia, república autônoma pertencente ao
Usbesquistão).
Em termos ambientais, o desastre
pode ser avaliado por uma serie de dados. Na década de 1980, o fluxo de água
dos rios Amu Daria e Sir Daria era de apenas 10% daquele que era registrado
vinte anos antes de iniciada a utilização da técnica de irrigação. Desde a
segunda metade da década de 1990 esses rios deixaram de levar água ao Aral. A
interrupção do fluxo de água combinado com a forte evaporação e a pouca chuva (deve-se
lembrar que o clima da região é desértico), fizeram diminuir a superfície do
mar em cerca de 65%. Como conseqüência, seu volume de água decresceu em 80%e a
profundidade média reduziu-se em 18 metros na parte sul e 13 metros na porção norte
do mar. A salinidade do Aral passou a ser equivalente à dos oceanos em geral.
O recuo da superfície do mar foi
deixando em seu leito milhares de hectares de áreas desérticas, recobertas por
sais que os ventos dispersam por uma vasta região. A água residual do mar,
assim como aquelas do curso inferior dos rios tiveram seu teor de sal aumentado
assim como a carga de resíduos químicos e bacteriológicos fruto da utilização
abusiva de adubos, pesticidas e desfolhantes químicos.
A independência das repúblicas da
antiga Ásia Central Soviética em 1991 acendeu esperanças de melhora da
situação. Os programas de assistência colocados em prática, especialmente por
organizações internacionais, todavia surtiram pouco efeito. Contudo sua
presença tem possibilitado alertar a opinião pública internacional para a
situação dramática vivida pelas populações atingidas pela catástrofe, vítimas
de políticas econômicas absurdas postas em prática por governos autoritários.
Esse é o exemplo clássico de um
projeto que foi implantado de maneira totalmente inadequada. Não se avaliou as modificações
ambientais que a implantação de um projeto de irrigação desse porte provocaria
em uma região desértica. Em decorrência dessa falha de planejamento uma rica
atividade pesqueira, que antes ocorria na região, foi quase que inteiramente
destruída. O Mar de Aral era responsável por 1/6 da produção de pescados da
antiga União Soviética e dava emprego a 40.000 pessoas. Hoje os barcos estão se
deteriorando sobre um solo ressequido, onde antes era mar. Provavelmente
tragédias desse tipo não mais se repetirão. Estamos aprendendo, através desses
erros monumentais, a sermos mais respeitosos com a natureza.
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